A água é primordial para a formação dos seres vivos. Os primeiros assentamentos populacionais da história da humanidade aconteceram à beira de rios, pois são locais que possuem uma maior captação de recursos para a sobrevivência. Hoje em dia, não é diferente, a urbanização das cidades e zonas rurais foram feitas em volta de corpos d’água superficiais, ou seja, pela água acumulada na superfície. A exploração dos recursos hídricos vem crescendo de forma exponencial desde então, com a retirada da água de nascentes para a utilização nos setores domésticos, industriais e agrícolas. Por se caracterizar como água limpa e renovável, os rios são os corpos d’água mais utilizados para esse abastecimento. Em contrapartida, por estarem tão perto desses centros populacionais, são também os mais afetados pela poluição.
Formadores de reservas de água naturais, os rios e lagos são os principais fornecedores de água potável acima do solo, configurando 0,4% da água potável total do planeta, sem contar a água em forma gasosa na atmosfera (nuvens e chuva). São abastecedores de fatores de bens de consumo e estão em todos os meios de produção, desde a água que bebemos e cozinhamos, até a água para a produção de alimentos - como a agropecuária, na geração de energia - como as hidrelétricas, e produtos industrializados - com a produção de produtos primários e resfriamento de maquinário. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a atividade que mais consome água é a agropecuária, responsável por consumir 70% da água utilizada pelo ser humano, seguida pela indústria, com 22%, e pelo uso doméstico, com 8%.
A origem da poluição dos corpos hídricos pode vir de diferentes formas, mas todas possuem uma coisa em comum: a atividade humana. Desde atividades de canalização, retificação e barragens, até o despejo de esgoto, lixo ou pesticidas, criam mudanças em sua estrutura, diminuindo a qualidade ambiental e ocasionando a poluição. A utilização dos recursos hídricos para a mineração se destaca também como fator poluente, pois a geração de lama como dejeto ocasiona o assoreamento dos rios e a contaminação por metais pesados. A exploração de matas ciliares, aquelas encontradas à beira de rios, também ocasionam a diminuição da qualidade ambiental local, pois são elas que regulam a sedimentação e auxiliam na filtração e no volume da água.
De acordo com uma pesquisa desenvolvida pela ONG SOS Mata Atlântica, em 2021, para o monitoramento da qualidade da água, foram levantados 146 pontos de coleta em 90 rios e corpos d’água de 65 municípios, em 16 estados do bioma Mata Atlântica. Os dados demonstram que 10 deles (6,9%) estão com média de qualidade em boa condição; 106 (72,6%) apresentam qualidade da água regular; 26 (17,8%) estão ruins e 4 (2,7%) em péssimas condições. Portanto, mais de 20% dos pontos de rios analisados não possuem condições para usos múltiplos da água, como na agricultura, na indústria ou no abastecimento humano. Além disso, o levantamento não identificou corpos d’água com média de qualidade de água ótima.
A água e o saneamento básico são direitos sociais reconhecidos pela Constituição desde 2016 e um direito humano reconhecido pela ONU desde 2010, mas sabemos que esse direito, no Brasil, não chega a todos. Quase 35 milhões de habitantes vivem sem água tratada e cerca de 100 milhões não possuem acesso à coleta de esgoto, evidenciando que 48% de toda população brasileira vive sem seu direito humano básico. Somente 50% de todo o esgoto é tratado no país, tornando-se, assim, um dos principais poluidores. A urbanização desordenada e a falta de infraestrutura são os responsáveis por esse problema. Na maioria das vezes, a má distribuição de água e a falta de saneamento básico são encontradas em locais de maior vulnerabilidade social. O desamparo para com a população de áreas carentes cria um problema de saúde pública, pois a falta destes direitos básicos eleva consideravelmente os riscos de doenças e infecções.
No ano de 2022, o Brasil enfrentou a pior crise hídrica das últimas décadas nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, e a previsão é de piora a cada ano. Segundo o Relatório Mundial de Desenvolvimento da Água, publicado pela pela ONU em 21/03 de 2023, o número de pessoas nas cidades que enfrentam a escassez de água está projetado para quase dobrar, passando para 2,4 bilhões e sua demanda aumente 80% até 2050. A escassez afeta todos os setores de produção e acirra a disputa pelo uso da água. Com a falta deste recurso, a economia inteira do país sofre, podendo aumentar preços de produtos básicos, do consumo de energia, e da fabricação de materiais, podendo acarretar a falta de empregos, sem contar a própria distribuição de água.
Os meios de prevenção deste problema são claros: o tratamento dos efluentes e a conversação da natureza são os meios principais de precaução para que a água potável não falte. Contudo, metade do esgoto industrial e doméstico é jogado in natura, ou seja, sem tratamento, e o desmatamento ainda acontece em ambientes de grande importância hídrica, como o Cerrado. Precisamos de políticas severas contra o desmatamento e para o reflorestamento de áreas de nascente, como também uma legislação coesa para que o saneamento e o tratamento de esgoto chegue a todos.
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