O biocarvão é obtido através de um processo chamado pirólise, que consiste no aquecimento de matéria orgânica em um ambiente fechado e sem oxigênio. Características comuns a todos os biocarvão é que eles costumam ter caráter básico, com pH acima de 7, além de alto teor de carbono e aromaticidade. Contudo, sua composição depende do tipo de biomassa e da maneira em que ocorreu a pirólise.
O sistema mais comum para lidar com a biomassa indesejada é o seu corte e a sua queima, comumente utilizado pela agropecuária para o espaço de plantio e pasto. Contudo, esse processo reduz a quantidade de seres fotossintetizantes, que são importantes produtores de oxigênio e sequestradores de carbono, e ainda libera diversos gases do efeito estufa durante a queima, agravando o aquecimento global. Dessa maneira, a pirólise seria um processo mais limpo para lidar com a biomassa descartada, e, principalmente, gerando o biocarvão, que proporciona diversas vantagens ambientais e agrícolas ao ser adicionada no solo.
No processo da pirólise, há a formação de três produtos: um líquido, denominado bio-óleo, o material sólido (biocarvão) e gases como óxidos de carbono, hidrogênio, metano e compostos orgânicos. Infelizmente, esses gases são de efeito estufa, porém, em compensação, parte da taxa de gases liberados seria novamente absorvida através do sequestro de carbono. Importante ressaltar que a temperatura da pirólise não pode ser relativamente alta, para que não haja tanta produção de cinza e o biocarvão perca a qualidade.
Ao ser inserido no solo, esse biocarvão pode diminuir a acidez, e consequentemente liberar nutrientes como cálcio, fósforo e potássio. Junto a essas vantagens, há o aumento do teor carbônico e da biodiversidade do solo, além da disponibilidade de água devido à grande porosidade. Interessante saber que alguns estudos apontaram que o biocarvão fixa substâncias provenientes de pesticidas, herbicidas, inseticidas e até mesmo de lixões, as quais são prejudiciais ao meio ambiente. Ao absorver essas moléculas, elas não ficam livres no ambiente e causam menos danos. Por fim, um solo mais nutrido promoverá o crescimento de espécies vegetais, aumentando o sequestro de carbono e diminuindo a lixiviação.
Ainda há muito a ser estudado sobre o biocarvão, mas um tópico que vem sendo levantado é a utilização desse material na agricultura como fertilizante natural, para que assim haja uma menor necessidade dos sintéticos. Os fertilizantes artificiais provocam graves problemas ambientais, como poluição dos rios e dos solos, então sua substituição é interessante de ser debatida.
Autora: Nina Fontana
Dicionário técnico
Aromaticidade: Característica designada a certo tipos de compostos orgânicos com uma específica estabilidade molecular.
Seres fotossintetizantes: Espécies como plantas, certas algas e alguns microorganismos, realizam o processo de fotossíntese. Esse fenômeno consiste inicialmente na captura do dióxido de carbono atmosférico (CO2) e da água, ocorrendo por fim a liberação de gás oxigênio (O2). Essa captura de carbono feita por esses seres também é chamado de “sequestro”.
Lixiviação: processo de desgaste do solo pelas chuvas. A água carrega os nutrientes e a matéria orgânica presentes na terra e empobrece a superfície.
Adsorver: Adesão de moléculas que estão livres em uma superfície sólida.
Fontes bibliográficas
Trazzi, P. A., Higa, A. R., Dieckow, J., Mangrich, A. S., & Higa, R. C. V. (2018). BIOCARVÃO: REALIDADE E POTENCIAL DE USO NO MEIO FLORESTAL. Ciência Florestal, vol. 28, n. 2, 875–887. Disponível em: https://doi.org/10.5902/1980509832128
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