A superfície de água, em corpos hídricos naturais, no Brasil foi reduzida em 6,3 milhões de hectares em 2023, em relação a 1985, quando foi iniciada a série histórica do mapeamento realizado pelo MapBiomas Água. Os dados, publicados no final de junho deste ano, indicam que os corpos hídricos no país correspondiam a 18,3 milhões de hectares, cerca de 2% do território nacional, no último ano. De acordo com o relatório, "houve perda de água em todos os meses de 2023 em relação a 2022, incluindo os meses da estação chuvosa". Entre os biomas, o Pantanal foi o que registrou maior seca ao longo do tempo, com uma queda de 61%, em comparação à média histórica. Além disso, Corumbá, um dos municípios cortados por esse bioma, no Mato Grosso do Sul, foi o que mais teve perda de superfície de água, aproximadamente 53%, no mesmo ano.
Conforme a plataforma, "os biomas estão sofrendo com a perda da superfície de água desde 2000, com a década de 2010 sendo a mais crítica". A Amazônia abriga mais da metade da água do país, 62% do total nacional, e teve uma diminuição de 3,3 milhões de hectares em relação a 2022. O bioma sofreu uma seca severa de julho a dezembro de 2023: “Houve isolamento de populações e mortandade de peixes, de botos e tucuxis”, contou o coordenador do MapBiomas Água Carlos Souza Jr. No Pantanal, aconteceu redução da área alagada e do tempo de permanência da água na sua superfície.
Nos biomas em que houve aumento da superfície coberta por água, as explicações são diversas, mas, em quase todos, não aconteceu em corpos hídricos naturais. “Em 2023, a Mata Atlântica registrou elevados níveis de precipitação em alguns municípios, levando a inundações em áreas agrícolas e deslizamentos”, explicou Fernando Paternost, do MapBiomas. Já no Cerrado, “a partir de 2003, a área de superfície de água destinada à geração de energia e ao abastecimento dos centros urbanos superou a área de água natural. No entanto, esses reservatórios são abastecidos pelos corpos de água naturais que têm sido reduzidos nas últimas décadas”, destacou Joaquim Pereira, do MapBiomas.
Fonte: Reprodução / Panorama da Superfície de Água do Brasil 1985 - 2023 / MapBiomas Água
Em 2023, também metade das bacias hidrográficas do país, seis, ficaram abaixo da média histórica, de acordo com os dados. A plataforma MapBiomas destacou que essa retração está acontecendo nos corpos hídricos naturais, por exemplo, rios e lagos. Já nas outras superfícies cobertas por água, como reservatórios, hidrelétricas e aquiculturas, em que há ação humana, a cobertura de água cresce: "Somente os grandes reservatórios cresceram 26% em 2023, em relação a 1985", aponta o relatório.
Os casos mais significativos foram observados nos estados de Mato Grosso do Sul, com uma redução de 33% na superfície de água, e Mato Grosso, com uma perda de 30%. O município de Corumbá (MS) correspondeu à maior área perdida para as queimadas, perdendo 348 mil hectares de vegetação nativa. Vale lembrar que, no Relatório Anual de Desmatamento (RAD), publicado pelo MapBiomas em junho deste ano, o estado do Mato Grosso foi classificado como o terceiro que mais sofreu desmatamento em 2023. Além disso, a plataforma sinaliza que a "agropecuária continua sendo o principal vetor de desmatamento".
Para entender melhor sobre o método adotado para o mapeamento dos dados e conclusões da plataforma, acesse o documento disponibilizado pelo MapBiomas Água, que faz um panorama da superfície de água do Brasil durante a série histórica (1985 - 2023):
Redatora: Mylena Larrubia
Referências:
Superfície de água no Brasil voltou a ficar abaixo da média em 2023
Pantanal 'seca' e perde 80% de superfície de água desde 1985, aponta estudo
Cobertura de água no Brasil diminuiu 6,3 milhões de hectares nas últimas quatro décadas - ((o))eco.
Superfície de água no Brasil fica abaixo da média histórica em 2023
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