O mercado de recicláveis no Brasil vem passando por dificuldades agravadas após a pandemia da covid-19. Catadoras e catadores pedem por maior valorização do setor, por exemplo, com uma ampliação da logística reversa da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O cenário de queda nos preços dos recicláveis no país, a alta tributação dos materiais e falta de políticas públicas efetivas são reclamações desses trabalhadores, que, segundo a diretora do Centro de Reciclagem Rio (CRR), Anice Torres, acabam deixando, cada vez mais, de coletar papel e papelão, situação que acarreta também em um impacto ambiental.
De acordo com relato do vice-presidente da Associação Nacional dos Aparistas de Papel (Anap) e representante da CRB (Comércio de Resíduos Bandeirantes), João Paulo Sanfins, ao Nexo Jornal, "os preços desse mercado de reciclagem são ditados pela lei da oferta e demanda internacional". Ele explica que, durante a pandemia, a alta demanda de compras on-line fez com que empresas precisassem formar estoques de materiais para a produção de embalagens para os envios. Depois que a crise sanitária foi amenizada, os armazenamentos continuaram grandes, o que fez com que os preços sobre esses produtos diminuíssem. Conforme O Trecheiro, o quilo do papelão chegou a ser comercializado por R$1,70 durante a pandemia e, hoje, vale somente R$0,15.
Foto: Devanir Amâncio.
Os produtos são tributados antes da venda e os materiais recicláveis dessas mercadorias são novamente tributados ao serem reciclados. Além disso, a economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni, explicou à BBC News Brasil que "a oscilação do preço do material reciclado ocorre porque a celulose e o alumínio são commodities negociadas no mercado financeiro mundial — ou seja, o preço flutua de acordo com fatores que vão muito além da economia local gerada pela reciclagem", por exemplo, quando o valor do dólar cai. A instabilidade no setor de coleta de materiais recicláveis fez com que, segundo estimativas da Anap, 67 empresas nacionais coletassem 1,6 milhão de toneladas em 2023, apenas 33% do volume coletado do ano anterior.
De acordo com dados do Movimento Nacional dos Catadores/as de Materiais Recicláveis (MNCR), o Brasil tem cerca de 1 milhão de catadores, os quais são responsáveis pela maior parte da coleta do país, mas 75% do lucro com esse trabalho fica com as indústrias. João Paulo Sanfins aponta que os consumidores têm um papel importante nessa situação, pois devem cobrar da produção industrial um maior uso de materiais recicláveis adquiridos de catadores e cooperativas. Como relatado pelo O Trecheiro, o MNCR indica como soluções: a contratação de catadores com pagamento justo pago pelos municípios, pagamento das empresas produtoras, distribuidoras e comerciantes de embalagens, bem como pagamento federal por serviços ambientais, desoneração tributária, aposentadoria especial, e regulação dos preços de recicláveis.
Redatora: Mylena Larrubia
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