As mudanças climáticas são uma realidade vivenciada por todos nos dias atuais e que a cada ano vem se agravando mais, demonstrando-se perigosa para os balanços químicos e físicos naturais do planeta. Um dos ecossistemas mais prejudicados por essas mudanças são os marinhos, que, com a subida de temperatura da Terra, podem ser afetados pelo aumento dos níveis do mar, da salinidade, da densidade e do pH da água. Os oceanos são responsáveis pela metade de todo resgate de CO2 atmosférico, sem ele o aquecimento global já estaria em uma escala muito mais alarmante. Esse processo se dá pela dissolução do dióxido de carbono em águas frias dos pólos, pela produção da fotossíntese e calcificação de algas e pela captação do gás para diferentes processos metabólicos de diferentes animais marinhos, como os corais, os mexilhões, estrelas e ouriços do mar e animais minúsculos, que precisam dele para a produção de seu esqueleto ou conchas.
Em 1988, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) estabeleceram o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC - sigla em inglês), para fornecer informações técnicas e científicas sobre as mudanças climáticas. O Quarto Relatório do IPCC (AR4) apresentou evidências de mudanças climáticas que podem afetar significativamente o planeta, especialmente nos extremos climáticos, com maior rigor nos países menos desenvolvidos na região tropical. Sua principal conclusão sugere, com confiança acima de 90%, que o aquecimento global dos últimos sessenta anos é causado pelas atividades humanas.
O Sexto Relatório do IPCC (AR6) informou que a temperatura média da superfície terrestre já aumentou 1,1ºC desde o início da era industrial, em função das atividades humanas, e é muito provável que esse aumento ultrapasse 2ºC já nos próximos 20 a 40 anos, se as coisas seguirem como estão. A possibilidade de frear o aquecimento em 1,5ºC, proposto pelo Acordo de Paris, é pequena, mas ainda existente, dependendo da redução drástica e imediata nas emissões de gases de efeito estufa oriundas das atividades humanas para a atmosfera.
O ecossistema marinho também é de devida importância para a manutenção do calor atmosférico, pois absorve cerca de 90% do calor retido na atmosfera, como também é responsável pelo resfriamento da mesma, pelos seus ciclos naturais. Essa absorção intensa de altas temperaturas ocasionadas pelas mudanças climáticas provoca impactos globais, como por exemplo a acidificação das águas oceânicas e o branqueamento de corais.
Segundo o relatório especial do IPCC, meio grau a mais no termômetro representa uma diferença enorme: com 2ºC de aquecimento, cerca de 99% dos recifes de corais de águas quentes (tropicais) do mundo deverão desaparecer, comparado a 70% a 90% no cenário de 1,5ºC. Projeções do relatório especial do Pnuma, nesse cenário, eventos globais de branqueamento em massa de corais, que até recentemente costumam ser esporádicos, passarão a ocorrer todos os anos a partir de 2045.
Importância do recife de corais:
O recife de corais é o ecossistema mais raro e mais diverso dos oceanos pois, mesmo possuindo uma extensão global de menos de 1% da área total dos mares, abrigam cerca de 1⁄4 de toda a vida marinha. Os corais são classificados biologicamente como animais, imóveis, coloniais, e filtradores que fazem parte da família das águas vivas e são responsáveis por produzir abrigo para algas e animais marinhos. Por fazerem parte da produção primária dos oceanos, servem de comida para vários tipos de animais marinhos, que por ventura chamam animais maiores pela fartura do banquete, considerando que 65% dos peixes marinhos vivem nesse ambiente. Os recifes de corais também possuem um papel muito importante como obstáculo físico em zonas costeiras para possíveis efeitos nocivos da subida do nível do mar e de tempestades tropicais, cuja frequência e intensidade vem aumentando a cada ano.
O recife de corais participa do balanço químico global marinho e são recicladores de carbono, fixando CO2 atmosférico em sua estrutura. Ou seja, os corais fornecem elementos químicos necessários para a sobrevivência de organismos marinhos, como as algas, além de resgatarem CO2 da atmosfera e fixam em seus corpos. Por formarem um ecossistema extremamente sensível a variações de temperatura das águas do mar, são excelentes bioindicadores de mudanças climáticas, sendo um dos seres mais estudados no mundo para a obtenção de dados sobre o aquecimento global.
São ambientes com alta relevância socioeconômica, pois são fonte de renda e sustento para milhares de pessoas através da pesca, coleta de organismos como peixes, polvos, lagostas, além da exploração do turismo, com passeios e expedições para visitação de espaços com alta riqueza de corais. Estima-se que 500 milhões de pessoas residentes de países em desenvolvimento possuam algum tipo de dependência dos serviços prestados por esse ecossistema.
Fonte: iGUi Ecologia
O Brasil está entre as principais regiões de ocorrência de recifes de corais nas Américas, junto com o Caribe e o leste do Pacífico, sua região de distribui por aproximadamente 3 mil km desde a costa do Maranhão ao Sul da Bahia. Ainda que os corais brasileiros pareçam mais resistentes do que outras regiões do planeta, por suas menores taxas de mortalidade por branqueamento vistas até o momento, as previsões para as próximas décadas são preocupantes tanto quanto o resto do mundo.
Branqueamento dos corais:
O branqueamento dos corais tem esse nome por ser um um fenômeno que faz com que os corais percam sua pigmentação, tornando-os embranquecidos ou totalmente brancos. A ocorrência desse fenômeno é devido a expulsão da zooxantela, que são responsáveis pela cor do coral e fornecem de 60 a 90% de todo carbono fotossintético. Ou seja, são microrganismos que atuam dentro dos corais que os auxiliam na absorção do carbono utilizado para a produção de seu próprio alimento. Vários fatores influenciam esse fenômeno, como a salinidade, sedimentação, exposição à luz, mudanças do nível do mar, microrganismos patogênicos, metais pesados, alta irradiação e, principalmente, a mudança de temperatura.
Fonte: ONU News
Os primeiros branqueamentos na história foram pouco relatados na literatura, mas há indícios que datam desde antes da década de 1990. Suas principais consequências são: a diminuição da capacidade reprodutiva, diminuição da taxa de crescimento e calcificação, a morte em massa das colônias com até 95% de mortalidade em algumas localidades além da mudança na composição das comunidades de corais, e na perda de biodiversidade pela decorrência da morte de algumas espécies de organismos marinhos que dependendo desses ambientes.
O branqueamento não é um fenômeno restrito somente aos corais, qualquer ser vivo que possui uma relação simbiótica com as zooxantelas podem sofrer desse fenômeno. Ou seja, animais que necessitam deste organismo para sobreviver dentro deles, como as esponjas, os moluscos e foraminíferos, também sofrem branqueamento como resposta a situações de estresse.
Cerca de 75% dos corais estão ameaçados e a previsão para até 2050 é que mais de 90% dos indivíduos serão perdidos. O Centro do Patrimônio Mundial da UNESCO divulgou, em 2017, que aproximadamente 21 dos 29 recifes de corais do Patrimônio Mundial sofreram estresse térmico, o que causou um dos piores branqueamentos já observados em locais como a Grande Barreira de Coral, na Austrália, Papahānaumokuākea, no Havaí, Lagoas da Nova Caledônia, na França e Atol de Aldabra, na África do Sul. A análise do estudo prevê que todos os 29 locais do Patrimônio Mundial contendo corais deixaram de existir como ecossistemas funcionais de recifes até o final deste século, no cenário atual.
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