A Revolução Industrial, com influências da 2ª Guerra Mundial, alinham a ideia de que os recursos naturais são abundantes, com disponibilidade infinita, onde a produção visa a fabricação em massa de produtos, extraindo, transformando, produzindo, utilizando e descartando. Esse modelo linear de economia vem sendo difundido até hoje, mas estudos mostram que sua base é incompatível com nossa realidade, tendo em mente que a disponibilidade dos recursos naturais são finitos. Com uma demanda e oferta exacerbada e sem um plano de resíduos para após a sua utilidade, o planeta sofre com essa organização econômica. Ao longo dos anos a sobrecarga ecológica vem sendo cada vez mais cedo do que o esperado, ou seja, a quantidade de matéria prima que extraímos e o lixo que produzimos é maior do que a Terra pode suportar, usando o equivalente a um planeta e meio e aumentando a insalubridade.
Com o crescimento populacional previsto para os próximos anos, o número de indivíduos consumidores vem crescendo cada vez mais, aumentando essa demanda de produção e de poluição exposta ao meio. Em média, há um acúmulo de lixo de 1,3 bilhões de toneladas de resíduos sólidos por ano no mundo, o que representa uma poluição per capita (por pessoa) de 1,2kg diária. Com o rápido crescimento populacional e urbanização, espera-se que o acúmulo de materiais suba para 2,2 bilhões de toneladas até 2025. O Brasil é o terceiro país que mais gera lixo no mundo, ficando atrás somente dos Estado Unidos e da China, produzindo em torno de 229 mil toneladas em 2018 onde 30% de todo o resíduo sólido tem o potencial de reciclagem, mas somente 3% é reaproveitado. O resto dos resíduos, cerca dos 27%, vai para aterros sanitários e lixões que poluem lençóis freáticos, corpos d’água e o solo, degradando ecossistemas e contribuindo para a emissão dos gases poluentes e de efeito estufa, além de serem responsáveis por causar inúmeras doenças.
Fonte: Irene Lima (2022)
Para reverter este cenário de degradação e pensando na melhor forma de utilização dos recursos naturais se traz a ideia de uma nova organização econômica, chamada de Economia Circular. A Economia Circular visa possibilitar um ideal aproveitamento e reaproveitamento sistemático de produtos industrializados, desde a etapa de sua confecção até após sua reutilização, focando no ciclo de vida útil dos produtos, além da geração de emprego e da estabilidade econômica local. Seus fundamentos são encontrados na biomimética, ou seja, na observação e análise da natureza como referência, tentando se assemelhar cada vez mais com seus ciclos naturais.
Muito mais ambiciosa do que a reciclagem de materiais ou iniciativas “lixo zero”, a Economia Circular amplia a cadeia de valor para abranger todo o ciclo de vida do produto, incluindo todos os estágios de fornecimento, fabricação, distribuição e vendas. Pode envolver desde o redesign do produto, o uso da matéria-prima, criação de novos subprodutos e coprodutos e a recuperação do valor de sobras de materiais usados no produto e no processo. Formando abordagens sobre materiais biodegradáveis, tornando-se nutrientes biológicos para serem absorvidos pelo meio, ou que assumem a continuidade em ciclo fechado (que retornam para o fabricante) de materiais sintéticos ou minerais, se tornando nutrientes técnicos para a formação do mesmo ou novos produtos.
Embora inovadora e audaciosa, é provável que estas iniciativas encontrem enormes dificuldades em sua implementação. Isto devido às estruturas físicas e operacionais encontradas nas práticas rotineiras já estabelecidas pelos setores governamentais, industriais e sociais. Ou seja, no setor governamental, embora tenham regulamentação para reciclagem, recuperação de energia e gestão de resíduos, tudo aquilo relacionado ao desenvolvimento ecológico, ao consumo e à reutilização possuem políticas menos rigorosas e não costumam ir além de rótulos ou campanhas informativas. No setor industrial, a falta de mecanismos tecnológicos adequados requerem um investimento mais elevado para a obtenção de dados relevantes, tanto na fase de produção como na de consumo, isto é, faltam competências técnicas dos especialistas tanto quanto elementos técnicos para a realização de seu trabalho. No setor social, devemos questionar a cultura do consumo, nós consumidores nos acostumamos ao modelo usar e descartar, então para uma mudança efetiva nos meios de consumo devemos adotar os 3 Rs, reduzir, reciclar e reutilizar, além de adotar formas de consumo mais sustentáveis, dando valor a produtos remanufaturados (que passaram por um processo de melhoramento para seu reuso).
Precisamos ser conscientes no uso dos produtos manufaturados e remanufaturados, adotando hábitos sustentáveis em nosso cotidiano e questionando as formas de consumo e produção dos produtos. Cobrar empresas e setores governamentais para que cuidem de seus resíduos e implementem políticas para que as indústrias adotem cada vez mais mecanismos para que seus meios de produção sejam sustentáveis. Você também pode fazer a diferença!
Será que eu preciso disso? Eu vou realmente utilizar esse produto? Posso optar por produtos recicláveis ou reutilizar algo? Como posso produzir/consumir sem poluir? O que posso fazer com meu resíduo? Para onde vai o meu lixo? O que esta empresa está fazendo para optar por uma produção sustentável? Ela é mesmo sustentável? Questione-se!
Por: Nicole Cruz
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