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Foto do escritorNicole Cruz

Plásticos nos oceanos: ameaças para a vida marinha e iniciativas para seu combate

O plástico é um dos materiais mais usados no mundo todo, fazendo parte do nosso cotidiano em diferentes áreas da vida. Por se caracterizar como um polímero proveniente de resina de petróleo, o plástico é muito resistente, durável, flexível e de baixo custo, o que faz com que as empresas optem pelo seu uso. Sendo assim, esse material está presente em diferentes utensílios domésticos, equipamentos e brinquedos, em quase qualquer embalagem, na confecção de roupas e em áreas da construção civil, do transporte e da saúde. No entanto, as mesmas qualidades que favorecem sua utilização são aquelas que os tornam nocivos para o meio ambiente, pois formam um acúmulo excessivo deste material na natureza.


A intensificação da sua produção foi na Segunda Guerra Mundial e até hoje seu crescimento é exponencial. A produção global de plástico aumentou 8,4% ao ano entre 1950 e 2015, chegando a 407 milhões de toneladas fabricadas em 2015 e continua aumentando na atualidade, com 460 milhões de toneladas produzidas em 2019. Como sua produção é interligada ao crescimento populacional e aos padrões de vida, a previsão é que em 2050 seja possível alcançar a média de 40 bilhões de toneladas de plástico produzidas.


O maior problema relacionado ao uso de plástico está no seu descarte, já que a maioria dos produtos que utilizam deste material são de uso rápido, ou seja, vão ser usados somente uma vez e ir direto para o lixo. Além disso, a maioria do descarte deste produto não vai para a destinação correta para que não tenha impacto na natureza. Estudos demonstram que 30% de todo o lixo destacado no Brasil tem potencial para ser reciclado, mas somente um pouco mais de 2% são efetivamente reciclados. O Brasil é o quarto país que mais produz plástico no mundo, chegando a um total de 11,3 milhões de toneladas por ano, mas somente 1% destes resíduos são reciclados. Esses dados podem ser explicados pela maior dificuldade na reciclagem do plástico devido ao baixo valor agregado e a expressiva quantidade de resíduos necessários para a obtenção de lucro.



Sem a destinação correta, esses resíduos são transportados para lixões, aterros sanitários ou são somente descartados no ambiente, como em ruas, praias, estradas, bueiros ou valões - o que gera um grande impacto ambiental. O ambiente marinho é o que mais sofre com esse descarte irregular de resíduos, com estimativas apontando que, em apenas 2010, foram encontrados de 4 a 12 milhões de toneladas de resíduos plásticos no mar, e 5,25 trilhões de fragmentos de plástico estão flutuando nos oceanos. Materiais de pesca, bóias, garrafas, sacos plásticos, balões, embalagens, palhinhas, hastes, entre outros, são alguns dos materiais mais reconhecidos como uma fonte de preocupação quando diz respeito ao ecossistema marinho.


O plástico, após sofrer ação do sol, se transforma em pequenas partículas menores denominadas microplásticos que são fatalmente confundidas com alimento pelos animais ou podem entrar pelas guelras dos peixes. Os animais filtradores, como mexilhões, ostras, esponjas, são os mais afetados pelo microplástico e por fazerem parte da cadeia alimentar de animais maiores, podem contaminar uma cadeia de alimentação inteira. O nome dessa contaminação é bioacumulação, que nada mais é quando um animal ingere algo tóxico e depois serve de alimento para outro animal, fazendo com que a substância tóxica possa contaminar também esse predador, e assim vai se acumulando em toda a cadeia alimentar. Ou seja, uma ave ou um peixe que coma um mexilhão contaminado por plástico também vai estar contaminado por ele, podendo chegar até nós humanos pelo mesmo processo.


Distúrbios na vida marinha ocasionados pelo plástico:

O crescimento exponencial da produção de plástico revolucionou a vida no planeta na mesma proporção que seus resíduos e o descarte inadequado tem causado grandes problemas na vida dos animais marinhos. Mais de 80% da poluição marinha provém de atividades humanas desenvolvidas em terra, que chegam aos oceanos de forma acidental ou deliberada. Desde sacos plásticos levados pelas águas da chuva e pelo vento, ou pesticidas passando pelo esgoto não tratado e químicos tóxicos, tem um impacto direto na vida desses animais.


Os maiores impactos de resíduos em animais marinhos são o emaranhamento ou enrolamento em rede de pesca e ingestão de resíduos. O emaranhamento em redes de pesca, pode causar a morte por afogamento ou fome, pela falta de locomoção, ou pode criar deformidades no corpo dos animais. A ingestão de resíduos pode causar o bloqueio do aparelho digestivo ou ocasionar uma falsa saciação, fazendo com que o animal não consiga ou não procure mais por alimentos nutritivos e acabe morrendo. Pelo menos 267 espécies são conhecidas por já terem sofrido por enredamento ou ingestão de plástico, incluindo aves marinhas, tartarugas, leões marinhos, focas, baleias, golfinhos e peixes.


Uma baleia cachalote, ameaçada de extinção, foi encontrada morta com 29 quilos de resíduos plásticos em seu estômago na costa de Múrcia, no sudeste da Espanha. Segundo a autópsia, feita pelo Centro de Recuperación de Fauna Silvestre El Valle, as paredes internas do abdômen do animal estavam inflamadas devido à infecção causada por fungos e/ou bactérias provenientes de todo lixo que ela engoliu em alto-mar.


Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) encontraram seis tipos de plástico em 98% dos peixes da Amazônia. Foram encontradas 383 partículas de plástico, em sua maioria no intestino, em 67 peixes analisados pelo Laboratório de Pesquisa e Conservação da UFPA, as outras foram localizadas nas brânquias. Não é a primeira, e nem será a última vez, que pesquisadores vão realizar esse tipo de estudo. Em 2019, foram identificados que 25% dos peixes coletados no Xingu continham partículas de plástico no trato gastrointestinal devido ao despejo irregular de plástico no Rio Amazonas, que chega a 39 mil toneladas. Essa notícia é muito grave, levando em consideração que as espécies de peixes que estão em nossos alimentos estão sendo infectadas, o que pode e vai nos infectar!



Fonte: Imagens Google Autor: Nicole Cruz


Empresas e iniciativas de economia circular com material retirado dos oceanos:

Para reverter o problema do despejo errôneo de plástico nas áreas urbanas e no oceano, jovens, cientístas, empresas e ONGs estão trabalhando para a criação de estratégias para a minimização dos impactos ou a retirada desse lixo. É de devida importância que a indústria e a população entendam os danos causados pelo plástico no ambiente marinho e batalhem juntos para que este problema seja solucionado. A retirada e a reciclagem do plástico vindo dos oceanos é muito importante para o futuro, pois os oceanos são o ecossistema mais importante de todo o planeta, ao prover oxigênio, comida e fazer parte da maioria dos ciclos naturais da Terra.


Projetos criados por jovens vem se desdetacando cada vez mais para o combate da poluição marinha. No Brasil, os projetos de Ecobarreiras, com o objetivo de recolher lixo de córregos e rios, estão crescendo cada dia mais e tomando força na área da preservação e educação ambiental. A Ecobarreira Arroio Dilúvio, em Porto Alegre, é uma estrutura flutuantes, feita a partir de materiais reclicados, que foi instalada para ajudar na preservaçao do Lago Guaiba de alta importância ambiental, econômica e histórica cultural da região. O projeto Ecoboat/Renove, no Rio de Janeiro, consiste em um barco coletor de lixo que conta com uma pá na proa para recolher os resíduos sólidos com a capacidade de até 4 toneladas de detritos. Quando o conteiner lota, todo material recolhido é descartado em um caminhão, passando por um centro de triagem para a reciclagem dos resíduo. A Ecobarreira Rio Atuba, em Curitiba, retem o lixo sólido que flutua com a ajuda de centenas de garrafas pet de dois litros em uma rede para criar a barreira flutuante, unindo uma margem do ria a outra e impedido que os detritos circulem livremente pela correnteza.


A mudança no olhar do consumidor está forçando as empresas a terem um olhar mais sustentável, fazendo com que criem estratégias para a diminuir seus impactos no meio. A SABIC, líder mundial na indústria química com sede na Malásia, anunciou a criação de um polímero produzido por meio da reciclagem de plástico recuperado dos oceanos. No ano passado, a companhia havia feito uma parceria com a Microsoft, resultando no lançamento de um mouse contendo 20% de plástico oceânico reciclado.


A Ford também anunciou que irá empregar plástico 100% reciclado dos oceanos na produção de peças automotivas. O náilon obtido pela reciclagem, segundo a Ford, tem a mesma resistência e durabilidade do que é feito a base de petróleo, mas custa 10% menos e consome menos energia na produção. O material está sendo utilizado nos clipes de fixação do chicote elétrico do Bronco Sport, o primeiro modelo a estrear a novidade.


Empresas brasileiras que se destacam com iniciativas ecológicas são a Chameleon Sun, a Positiv.a, Onda Eco, Natura e Amaro. Com a parceria da marca Chameleon Sun, produtora de protetores veganos, com a ONG Eco Local Brasil, instituição que realiza a limpeza e gerenciamento dos resíduos coletados dos oceanos, foram desenvolvidos potes recicláveis com reaproveitamento do plástico coletado do oceano. A Positiv.a, empresa vegana que oferece produtos de limpeza e autocuidado, em 2020, retirou 0,45 toneladas de redes de pesca dos mares e praias para transformá-las em outros produtos, como o esfregão ecológico, em parceria com a artesã Nara Guichon. Onda Eco é uma marca de produtos de limpeza ecológicos e veganos que utiliza de embalagens produzidas com plástico retirado do litoral e oceanos, além de contar com o Selo Eu Reciclo de Logística Reversa. A Natura anunciou uma linha de produtos chamada “Kaiak”, com a iniciativa de utilização de produtos provenientes da reciclagem, impedindo que o plástico chegue até os oceanos. A Amaro é uma empresa 100% carbono negativo e uma de suas metas é eliminar 100% do plástico virgem de todas as embalagens e produtos de moda, substituindo o plástico de seus produtos por plástico reciclado retirado do litoral brasileiro.


ONGs como o Canal Novo Mundo, a One Earth One Oceon e a Ocean Cleanup atuam na preservação ambiental, tanto por meio da criação de projetos de limpeza e mutirões em praias e lugares públicos, como também ações de educação ambiental. Com a movimentação da população e comunidades de pescadores, as ONGs trazem conteúdos para alertar os malefícios que a poluição pode causar no ambiente e em suas próprias vidas, que são de devida importância para esse combate.


Nós da sociedade civil também podemos ajudar no combate da poluição dos oceanos ao repensar o nosso estilo de vida e nosso consumo. Como na construção de um pensamento sustentável sobre o nosso consumo e na escolha de empresas que aplicam a ideia sustentável ou com a separação do lixo doméstico. Ou seja, todos nós podemos, e devemos, fazer parte dessa luta.


Espero que este conteúdo lhe tenha sido útil! Vamos juntos para um futuro com consumo consciente! Vamos construir um Novo Mundo!


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